sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

fonte que nunca seca

Fingem sorrir, acendem um cigarro sem que lhes importe a beleza ou demais feridas. Mais relevantes são os pequenos dramas de rua, intrigas, mortes e desavenças - ou a ébria bondade dos amigos. Aprende a humildade desses velhos de boné ensombrando as súbitas rugas da face. Para tanto abandono não são precisas palavras. Os mendigos e a grande confraria do álcool te dirão o mais certo silêncio. Sepulta a solidão nos mármores gordurosos de balcões tristes e escuros e esquece o teu próprio nome, preferindo-lhe a serenidade de um vagaroso declínio.
Bebe com eles, sabe a cor de seus ternos olhares praguejantes, e diz às mãos que não passam de mãos, ao corpo que não passa de corpo.


(Manuel de Freitas)

Um comentário:

  1. Que texto maravilhoso! Não sei como é na cidade onde vc mora, minha amiga, mas, aqui em São Paulo, vc não faz idéia de como esse drama é presente e pungente...
    GK

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